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Precisamos falar de cerâmica e trazer as coisas de volta à vida

Foto do escritor: cmcapanemacmcapanema

Atualizado: 26 de fev.


No fim de semana passado experimentei pela primeira vez a elaboração de peças de cerâmica. As aulas são muito prazerosas e cumprem a promessa de relaxamento, ao mesmo em que te colocam em atenção plena.  Para mim, que tenho uma personalidade um tanto controladora, além de ser altamente perfeccionista, foi também um exercício de desprendimento, de deixar que a matéria tomasse forma junto comigo.


Por mais que você idealize no início a sua peça, ela certamente vai te surpreender ao longo do processo. Inicialmente, senti uma frustração enorme por não poder controlar meu produto e comecei a me queixar com minha professora, da @ceramicatchela, que também é minha amiga de infância e uma irmã de alma. Ela me olhou meio crítica e disse que estava percebendo meu perfil de aluna. A partir daí comecei a fazer uma autocrítica e relaxei um pouco tentando ver valor e beleza naquilo que eu e a argila estávamos produzindo.
E este foi o ponto em que me lembrei do trabalho do antropólogo Tim Ingold, sobre os materiais e a materialidade. Tim Ingold entende os materiais e a materialidade das coisas de uma forma dinâmica e relacional. Para ele, os materiais não são substâncias estáticas ou meros objetos, mas entidades em constante transformação. Em vez de ver os materiais como elementos passivos usados pelos seres humanos para construir o mundo, Ingold enfatiza como eles estão sempre em fluxo, interagindo com o ambiente e sendo moldados por processos naturais e humanos.


Ele destaca a importância do envolvimento direto com os materiais, mostrando que criar algo não é apenas impor uma forma a uma matéria bruta, mas colaborar com suas propriedades e movimentos. E, nesse sentido, nos convida a trazer as coisas à vida, restaurando os fluxos geradores do mundo de materiais.


Quando trabalho a argila para produzir minha peça de cerâmica, a argila, a água e as ferramentas que utilizo trabalham comigo, são transformadas COMIGO e não POR MIM, nos transformamos juntas. E sobre esse processo ninguém tem total controle, nem eu, nem a matéria. E foi isso que causou em mim sentimentos ambíguos, pois ao mesmo tempo em que me frustrei, me deliciei com a real cri(a)ção. E é por isso, e pela beleza desse processo, que precisamos falar de cerâmicas.

 

Este texto é dedicado a minha mestra e amiga que amo e admiro, Ana Cláudia Gomes Amorim, da Cerâmica Tchela.

 

Referência Bibliográfica:


INGOLD, Tim. Materiais contra materialidade. In: Estar vivo: ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.


 

Como citar este texto: CAPANEMA, Carolina M. Precisamos falar de cerâmica e trazer as coisas de volta à vida Acesso em: https://emtudovejonatureza.wixsite.com/inicio/post/precisamos-falar-de-ceramica-e-trazer-as-coisas-de-volta-a-vida . [Data de acesso].




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