Um portal de notícias que “nunca desliga” - e se gaba disso sem perceber que faz parte da contradição capitalista que produz as tragédias que ele divulga “hora a hora”- apresentava um programa em que o tema era “emergência climática”.
Termo que agora parece definitivamente ter conquistado os jornalistas, mesmo que muitos o façam de forma oportunista, sem fazer ideia do que isso venha a significar ou tenha real interesse em compreender a complexidade e os fundamentos socioambientais do problema.
Sob essa temática, as cenas da tragédia no Rio Grande do Sul foram sendo apresentadas e o uso da desgraça daquelas pessoas, em forma de depoimentos realmente tristes de quem perdeu absolutamente tudo, foi sendo feito de forma indiscriminada, sob o pretexto de documenta-lá de forma mais próxima possível da realidade para os telespectadores. Obviamente funciona e a gente chega a sentir a dor daquelas pessoas.
Em meio às cenas e depoimentos, contudo, a “emergência climática” não aparecia. Inicialmente até achei que era um programa que iria debater o tema, pensar o problema junto com “especialistas”. Mas eram apenas imagens e relatos dos atingidos e atingidas, agora, refugiadas climáticas. Estas que, inclusive, vêm sofrendo com a violência de gênero, como se não bastasse terem perdido tudo. Mulheres e natureza, sempre postas abaixo da linha de subordinação da humanidade.
Em meio aos depoimentos, repórteres e jornalistas convidados discutiam quais eram as soluções apresentadas pelos governantes até o momento e como estavam pensando o futuro. As soluções eram todas imediatistas e voltadas para resolução das consequências do desastre. Ninguém falava em plantar uma árvore sequer, ou mencionava a manutenção de matas ciliares, a recuperação de áreas degradadas para a contenção hídrica, a recuperação dos solos compactados que, consequentemente, poderiam evitar erosões e inundações.
Soluções de engenharia urbana não vão acabar com o problema. O conhecimento técnico não vai nos salvar desse buraco onde nos metemos. Precisamos olhar para a natureza, para a inteligência contida em suas soluções. Agir na causa do problema, que reside na forma como a humanidade lida com tudo que não é humano, com a vegetação, os animais, as águas, os solos, todos pensados como recursos disponíveis à satisfação do lucro e dos desejos alimentados pelo capital.
Os muros e os diques construídos em Porto Alegre após a enchente histórica de 1941 não impediram que as águas do Guaíba entrassem agora na cidade e continuarão não impedindo. O rio pede passagem e é preciso respeitar os cursos d’água.
Como citar este texto: CAPANEMA, Carolina M. Emergência Climática e Oportunismo. Acesso em: https://emtudovejonatureza.wixsite.com/inicio/post/emergencia-climatica-e-oportunismo[Data de acesso].
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