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Árvores e mercantilização da natureza




Certa instituição da área de conservação anda divulgando uma campanha de doação de árvores. Doando R$ 25, você “planta” uma árvore. Ou melhor, você “compra” uma árvore.


Campanhas de doação são bastante comuns na área de conservação no contexto estadunidense. No Brasil, não são culturalmente muito bem aceitas. Arrisco a dizer que um dos motivos seja uma cultura preservacionista menos arraigada à identidade nacional e também um enquadramento igualmente mais fraco às doutrinas do liberalismo econômico. Mas a questão que me toca, nesse caso, é a mercantilização da natureza. Uma vez que os problemas que enfrentamos relacionados à crise climática foram causados justamente pelo seu uso intensivo como mercadoria.


Além disso, não há compensação na natureza. A destruição de um ecossistema não pode ser neutralizada pela conservação de outro, a vida de uma árvore não pode ser substituída pela vida de outra.  Não há compensação, cada vida é única e uma árvore arrancada aqui não será substituída por uma plantada em outro lugar. Mas o ideal do capitalismo verde e da apropriação das pautas ambientais pelo mercado é exatamente capturar as pessoas e as mentes nessa lógica.

“Mitigação” é outro termo em alta, que também sustenta esse mesmo ideal de mercantilização da natureza e representa a falta de vontade política de compreender as relações socioambientais fora de uma lógica de mercado. Todas as grandes empresas e corporações operam na base da mitigação dos impactos por ela causados atualmente.

Dessa forma, o sistema nunca muda e a máquina continua a girar e moer gentes e naturezas. Portanto, ver uma instituição ligada à conservação operar dentro da política de mercantilização me soa absurdo. Se não formos radicais em nossas escolhas e atitudes a partir de agora, em direção a uma ética biocêntrica, não haverá volta. Se é que ainda há.


Há uma passagem do livro "A queda do céu", de Davi Kopenawa, que descreve muito bem as contradições da nossa "sociedade da mercadoria":


"Não é o ouro, nem as mercadorias, que faz crescer as plantas que nos alimentam e que engordam as presas que caçamos! Por isso digo que o valor de nossa floresta é muito alto e muito pesado. Todas as mercadorias dos brancos jamais serão suficientes em troca de todas as suas árvores, frutos, animais e peixes. As peles de papel de seu dinheiro nunca bastarão para compensar o valor de suas árvores queimadas, de seu solo ressequido e de suas águas emporcalhadas. Nada disso jamais poderá ressarcir o valor dos jacarés mortos e dos queixadas desaparecidos".

 

Referência:


KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo Companhia das Letras, 2015.

 

Para aprofundar o tema:


BRAND, Ulrich. Modo de vida imperial: sobre a exploração dos seres humanos e da natureza no capitalismo global. São Paulo: Elefante, 2021.


GUDYNAS, Eduardo. Direitos da natureza: ética biocêntrica e políticas ambientais. São Paulo: Elefante, 2019.


 

Como citar este texto: CAPANEMA, Carolina M. Árvores e mercantilização da natureza. Acesso em: https://emtudovejonatureza.wixsite.com/inicio/post/arvores-e-mercantilizacao-da-natureza. [Data de acesso].










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