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A Serra do Curral e a mineração


Vista da cidade de Belo Horizonte a partir da Serra do Curral. Foto: H. Pardini, mar. 2016
Vista da cidade de Belo Horizonte a partir da Serra do Curral. Foto: H. Pardini, mar. 2016

A Serra do Curral emoldura a cidade de Belo Horizonte.


Seu nome faz referência ao arraial que foi soterrado para a edificação da cidade na última década do século XIX, o Arraial do Curral Del Rei. Sim, a capital do estado se estabeleceu sobre os destroços de um povoamento assentado naquele território desde o século XVIII. Mas sua ocupação remonta a um tempo bem mais longínquo pelos povos originários que ali viviam (e ainda vivem). Belo Horizonte, como muitas outras cidades, é dada a constantes destruições dos modos de viver e de ser.

Apesar de a Serra do Curral ser o marco geográfico mais representativo da cidade, ser importante repositório de mananciais que abastecem o município e ter expressivo significado afetivo e simbólico para os belo-horizontinos, sua história e sua integridade são marcadas por constantes ameaças pela mineração.

Abaixo, a Serra vista de diferentes lugares da cidade.


Em meados do século XX, em um contexto diferente do atual, em que a exploração mineral encontra-se concentrada nas mãos de empresas particulares, o próprio município era detentor das ações de uma empresa mineradora, a Ferro de Belo Horizonte S/A (FERROBEL), criada em 1961, que extraía minério de ferro na região da serra do Curral.

Outra empresa, mas de capital privado, que teve sua atuação repercutida na cidade foi a multinacional “Minerações Brasileiras Reunidas” (MBR), hoje subsidiária da Vale, que também explorava o minério de ferro na Serra do Curral. Ela foi foco de inúmeras denúncias devido ao Projeto “Águas Claras”, inaugurado em 1974, que acarretou o rebaixamento do perfil original da serra, bem como prejuízos aos moradores de bairros vizinhos à mineração, que sofriam com as explosões de dinamites. O projeto desencadeou o surgimento de inúmeros protestos civis, como o movimento “olhe bem as montanhas”, lançado pelo artista plástico Manfredo Souzanetto.
Postal integrante da série "Réquiem para a Serra do Curral", de manfredo Souzanetto, dezembro de 1981.
Postal integrante da série "Réquiem para a Serra do Curral", de Manfredo Souzanetto, dezembro de 1981. 2ª reedição, Museu de Arte da Pampulha, 2011.
Postal integrante da série "Réquiem para a Serra do Curral", de Manfredo Souzanetto, dezembro de 1981.
Postal integrante da série "Réquiem para a Serra do Curral", de Manfredo Souzanetto, dezembro de 1981. 2ª reedição, Museu de Arte da Pampulha, 2011.

Atualmente, nem mesmo seu tombamento em âmbito federal (1960) e municipal (1991) tem impedido as tentativas de destruição da serra pela mineração.


Nesta sexta-feira, 29 de abril, o Conselho Estadual de Política Ambiental de Minas Gerais (COPAM) irá avaliar a proposta de instalação do Complexo Minerário Serra do Taquaril, da Tamisa (Taquaril Mineração S/A). O projeto, se aprovado, prevê a retirada de pelo menos 31 milhões de toneladas de minério de ferro durante um período de 13 anos, causando graves impactos para o ambiente, a qualidade de vida da população, a segurança hídrica e o patrimônio cultural dos belo-horizontinos.

Novamente, a sociedade civil vem se posicionando contra mais esse projeto de destruição causado pela mineração em Minas por meio do movimento #tiraopedaminhaserra, que tem originado grande mobilização na cidade e a criação de montagens, ilustrações e charges bem interessantes que poderão ser fontes para uma história ambiental de Belo Horizonte no futuro. Espero que seja para contar uma história em que a pressão popular venceu o desejo e a ganância pelo lucro das grandes empresas e corporações.
 

Referências Bibliográficas:


FERRAZ, Sarah Cruz. Triste Horizonte. Movimentos em defesa da Serra do Curral – Belo Horizonte, década de 1970. Monografia (Graduação em História). Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2008.


IPHAN. Serra do Curral. Conjunto Paisagístico. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/ans.net/tema_consulta.asp?Linha=tc_arque.gif&Cod=1276. Acesso em: 28/04/2022.


PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE. Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural. Tombamento da Serra do Curral. Caderno de Meio Ambiente 5. Belo Horizonte: PBH, dezembro de 1992.


PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE. Legislação Municipal de 1961. Lei nº 898, de 30 de outubro de 1961. [Autoriza a organização da Ferro de Belo Horizonte S/A - (FERROBEL) - Sociedade de Economia Mista por Ações, destinada a explorar, comerciar e industrializar minérios em geral - bem como a abertura de créditos especiais para o mesmo fim e dá outras providências]. Belo Horizonte: Departamento de Administração, Divisão de Documentação e Estatística, 1962, p.44-48.


PROJETO MANUELZÃO/UFMG. Conselho ambiental avalia projeto de exploração da Serra do Curral nesta sexta, 29. Disponível em: https://manuelzao.ufmg.br/conselho-ambiental-avalia-projeto-de-mineracao-na-serra-do-curral-nesta-sexta-29/. Acesso em: 28/04/2022.


 

Como citar este texto: CAPANEMA, Carolina M. A Serra do Curral e a mineração. Viçosa. 2022. Disponível em: https://emtudovejonatureza.wixsite.com/inicio/post/serra-do-curral-e-a-mineracao. Acesso em: [Data de acesso].










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