O geógrafo Aziz Ab’Saber definiu a paisagem como uma herança. Tanto de processos biofísicos, quanto antrópicos.
E, por isso, ele acreditava que todos temos uma parcela de responsabilidade permanente de proteção dessa herança coletiva, no sentido da utilização não predatória da paisagem terrestre. Mas o mais interessante é a atualidade das reflexões que ele fez sobre o tema, em 1977:
“para os que não têm consciência do significado das heranças paisagísticas e ecológicas, os esforços dos cientistas que pretendem responsabilizar todos e cada um pela boa conservação e pelo uso racional da paisagem e dos recursos da natureza somente podem ser tomados como motivo de irritação, quando não de ameaça, a curto prazo, à economicidade das forças de produção econômica”.
E não é esse o discurso que vem sendo reproduzido pelas instâncias governamentais atualmente? De que as ações em prol da conservação da natureza são um obstáculo ao desenvolvimento econômico?
Mas a questão que coloco é: haverá desenvolvimento econômico se a natureza - erroneamente chamada de “recurso” natural - for completamente devastada? Sem água, sem madeira, não existiria nem indústria. Está tudo conectado. E se o argumento utilitarista e economicista é o único que faz sentido para grande parte da humanidade, reflitamos a partir dele.
Mas que herança iremos deixar?
Referência:
AB’SÁBER, Aziz Nacib. Os domínios da natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, [1977] 2003.
Como citar este texto: CAPANEMA, Carolina M. Paisagens como herança, mas que herança?. Viçosa. 2021. Disponível em: https://emtudovejonatureza.wixsite.com/inicio/post/paisagens-como-heranca-mas-que-heranca. Acesso em: [Data de acesso].
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