Ana Primavesi - agrônoma e defensora da agroecologia - percebia uma ligação intrínseca entre os solos, as plantas, a saúde humana e animal.
O boi do meu vizinho (este mesmo aí de cima) vive tentando entrar aqui em casa. Outro dia ele foi pego mordendo a corda que colocamos para substituir o arame farpado que ele mesmo arrebentou ao pular a cerca. Fico pensando qual será a deficiência alimentar dele e o que está faltando no pasto.
Digo isto com base nas afirmações de Primavesi. Vejam como ela explica de maneira simples e aplicada a interação dinâmica entre solos, plantas e animais neste caso divertido reproduzido em sua biografia, escrita pela geógrafa Virgínia Knabben.
No início da década de 1980, Primavesi e outros profissionais foram convidados para elaborar um projeto de desenvolvimento social, econômico e ambiental em Fernando de Noronha. Naquela época, a ilha tinha um mascote, um touro da raça Gir, velho e manso, que a população adorava.
As equipes contratadas para elaborar o tal projeto começaram a chegar, explica Virgínia,
“bem na época em que o touro tinha descoberto que podia subir ao Palácio de Governo, que ficava no topo de uma colina, e entrar na Secretaria do Palácio para comer a correspondência e todas as atas e papéis que pudesse alcançar (...) Sem saber o que fazer, o governador perguntou a Ana: “O que eu faço?” Ela disse, divertida: “Sabe por que o touro entra aqui e come sua papelada? Animal nunca faz nada por malvadeza. Ele faz isso porque procura fósforo, que parece faltar na sua comida. Quando falta cloro, por exemplo, comem a terra onde urinam, quando falta cobalto, roem as cascas das árvores, e na falta de nitrogênio, lambem o reboque das casas. Papel contém fósforo, por isso ele o procura. Então, se derem uns punhados de fósforo de manhã no seu cocho na forma de farinha de ossos, ele não vai mais subir ao Palácio do Governo””.
E foi exatamente o que aconteceu! O touro nunca mais foi ao palácio.
Mas Primavesi não restringia suas análises aos animais não humanos. Segundo ela, o mesmo vem acontecendo conosco, que ao nos alimentarmos de plantas deficientes, cultivadas em solos pobres ou saturados por agrotóxicos, temos uma nutrição igualmente deficitária e ficamos mais suscetíveis a doenças.
Como disse Ana, “com o solo, vive e morre o homem”.
Para conhecer um pouco mais da obra e trajetória de vida de Ana Maria Primavesi, acesse o site: https://anamariaprimavesi.com.br/.
Referência:
KNABBEN, Virgínia Mendonça. Ana Maria Primavesi: histórias de vida e agroecologia. 2ª ed. São Paulo: Expressão Popular, 2017.
Como citar este texto:
CAPANEMA, Carolina M. O boi, o touro, as plantas e o futuro da humanidade. Viçosa. 2021. Disponível em: https://emtudovejonatureza.wixsite.com/inicio/post/o-boi-o-touro-as-plantas-e-o-futuro-da-humanidade. Acesso em: [Data de acesso].
Comments