Para historiadoras e historiadores que desejam adentrar no campo da história ambiental, geralmente um dos grandes desafios é a interdisciplinaridade.
Independente do tema ao qual você for se debruçar, em algum momento terá que lidar com questões que não se limitam ao campo das humanidades. Eu, por exemplo, no mestrado, estudei a obra de um cientista, botânico e especialista em fitogeografia. Sinceramente, até aquele momento, não conhecia aquele campo do conhecimento. Mas para ter segurança e compreender a obra do autor que pesquisava, tive que entender como ele interpretava o mundo a partir daquela especialidade. Fui para o curso de geografia e ali cursei duas disciplinas: bio e fitogeografia. Não me tornei uma autoridade no tema, óbvio, e certamente tenho minhas limitações para compreendê-lo, mas consegui adentrar no mundo do Alberto José de Sampaio (1881-1946). No doutorado pesquisei mineração no século XVIII, especificamente os usos e apropriações sociais da natureza nos principais centros mineradores da capitania de Minas Gerais, e precisei adquirir noções mínimas de geologia, principalmente sobre como esse conhecimento se constituía naquele período, e sobre técnicas de mineração.
Como historiadora que começou a olhar o mundo natural como parte constitutiva das dinâmicas históricas, alguns livros foram essenciais na minha “redescoberta” da natureza. Destaco aqui “Ecologia Geral”, do Mário Guimarães Ferri. Lembrando que, para mim, referências bibliográficas nunca são universais e podem sempre ser controversas.
O livro foi originalmente publicado em 1980 e certamente existem referências mais atualizadas sobre o tema. Mas gosto especialmente desse volume porque, além de trazer conceitos básicos para compreendermos as inter-relações dos seres entre si e com o meio, sua linguagem é de uma simplicidade que imprime enorme beleza às considerações do autor. O objetivo da coleção “Temas de Ciência”, em que foi publicado o livro, era exatamente fazer o conhecimento científico acessível ao maior número de pessoas e acredito que a obra o cumpriu de forma admirável.
Além disso, adoro a identidade criada pela editora Itatiaia com as capas ilustradas pelo artista plástico Cláudio Martins, além de o volume ter sido comprado em um lugar pelo qual nutro grande afeto e onde já passei horas folheando livros: a sede da editora em Belo Horizonte. Ali era atendida pelo Sr. Sabino, funcionário antigo da editora, que sempre oferecia um bom desconto nas compras, além de indicações.
Quem tiver interesse em saber mais sobre as publicações da editora e ter acesso a uma análise historiográfica da coleção, há um estudo interessantíssimo dos meus colegas Gisella Amorim Serrano e José Otévio Aguiar sobre o tema. Veja a referência abaixo.
Referências:
FERRI, Mário Guimarães. Ecologia Geral. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 1980.
SERRANO, Gisella de Amorim; AGUIAR, José Otávio. A história e a ciência no Brasil: Mário Guimarães Ferri e a organização da coleção Reconquista do Brasil. MNEMOSINE REVISTA, v. 8, p. 334-354, 2017.
Minhas pesquisas:
CAPANEMA, Carolina Marotta. A natureza no projeto de construção de um Brasil
Moderno e a obra de Alberto José de Sampaio. Dissertação (Mestrado em História). Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG. Belo Horizonte, 2006.
CAPANEMA, Carolina Marotta. A natureza política das Minas: mineração, sociedade e ambiente no século XVIII. Tese (Doutorado em História). Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2013.
Como citar este texto:
CAPANEMA, Carolina M. História, natureza e interdisciplinaridade . Em Tudo Vejo Natureza, Viçosa. 2020. Disponível em: <https://emtudovejonatureza.wixsite.com/inicio/post/hist%C3%B3ria-natureza-e-interdisciplinaridade>. Acesso em: [Data de acesso].
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