Quando pensamos em conservação/preservação da natureza geralmente achamos que estas preocupações são fruto do presente. Mas, nas décadas de 1920 e 1930, o Brasil experimentou algumas iniciativas e discussões em torno da "proteção à natureza" (expressão mais comum na época) que são pouco conhecidas.
Naquele período, um grupo de pessoas de diferentes áreas profissionais – especialmente intelectuais, cientistas, professores e funcionários públicos – colocou na ordem do dia a discussão acerca da natureza brasileira e dos problemas causados pela devastação e destruição, principalmente das nossas matas. Estes pensamentos geraram um movimento integrado, centralizado no Rio de Janeiro, onde esse grupo publicava artigos em jornais e revistas visando influenciar a sociedade.
Em um primeiro contato com a obra de cientistas e autores que abordaram o tema no passado - como o botânico Alberto José de Sampaio (1881-1946) - nos surpreendemos diante de sua aparente atualidade em relação a uma questão tão eminente nos dias de hoje. Mas, a análise dos documentos produzidos por estes personagens indica que as ideias vinculadas à proteção da natureza tinham orientações bastante específicas e estavam relacionadas a um contexto mais amplo de construção da nação e da nacionalidade brasileira.
Para Alberto Sampaio, a proteção e o uso “racional” da natureza seria a melhor forma de promover o desenvolvimento econômico e social do Brasil. A natureza era, para ele, o principal instrumento de construção de um projeto de nação moderna e desenvolvida, capaz de alçar o país ao patamar das nações ditas “civilizados” (um valor defendido como universal pelos cientistas daquele tempo).
E em que isso contribui para pensarmos o presente? Talvez para compreendermos que nem sempre a natureza foi vista como empecilho para o desenvolvimento, como defende o governo atual. Muito pelo contrário! Para alguns pensadores e cientistas da primeira metade do século XX, a natureza era pensada como grande propulsora de um desenvolvimento genuíno do Brasil.
Para saber mais sobre o assunto, veja as referências bibliográficas indicadas abaixo.
Este texto foi escrito com base nas reflexões desenvolvidas em minha dissertação de mestrado:
CAPANEMA, Carolina Marotta. A natureza no projeto de construção de um Brasil Moderno e a obra de Alberto José de Sampaio. Dissertação (Mestrado em História). Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2006.
Outras referências bibliográficas:
DRUMMOND, José Augusto.A Legislação Ambiental Brasileira de 1934 a 1988: comentários de um cientista ambiental simpático ao conservacionismo. Ambiente & Sociedade, ano II, n. 3 e 4, 1998/1999, p. 127-149.
DUARTE, Regina Horta. A biologia militante: o Museu Nacional, especialização científica, divugação do conhecimento e práticas políticas no Brasil - 1926-1945. Belo Horizonte: editora UFMG, 2010.
FRANCO, José Luiz de Andrade e DRUMMOND, José Augusto. Proteção à Natureza e Identidade Nacional no Brasil, anos 1920-1940. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2009.
McCORMICK, John. Rumo ao paraíso – a história do movimento ambientalista. Rio de Janeiro: Editora Relume-Dumará, 1992.
PÁDUA, José Augusto. Natureza e Projeto Nacional: As Origens da Ecologia Política no Brasil. In: PÁDUA (org.), Ecologia e política no Brasil. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo: IUPERJ, 1987.
URBAN, Teresa. Saudade do Matão: relembrando a história da conservação da natureza no Brasil. Curitiba: Editora da UFPR; Fundação O Boticário de Proteção à Natureza; Fundação McArthur, 1998.
Como citar este texto:
CAPANEMA, Carolina M. Cientistas em defesa da natureza no Brasil na primeira metade do século XX. Viçosa. 2020. Disponível em: https://emtudovejonatureza.wixsite.com/inicio/post/cientistas-em-defesa-da-natureza-no-brasil-na-primeira-metade-do-seculo-xx . Acesso em: [Data de acesso].
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