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Caatingas, sertões e estereótipos


Lajedo do Pai Mateus. Cabaceiras, Paraíba. Foto: Carolina Capanema, fev.2020.
Lajedo do Pai Mateus. Cabaceiras, Paraíba. Foto: Carolina Capanema, fev.2020.


"Conhecer mais adequadamente o complexo geográfico e social dos sertões secos e fixar os atributos, as limitações e as capacidades dos seus espaços ecológicos nos parece uma espécie de exercício de brasilidade”.


Concordo com o geógrafo Aziz Ab’Saber, autor do trecho citado, e acredito que conhecer melhor qualquer aspecto das múltiplas culturas e biomas brasileiros e romper estereótipos é um exercício de brasilidade.


Para a construção de um país mais justo social e ambientalmente é necessário refletir sobre as classificações e hierarquizações que tradicionalmente se fazem no Brasil dos nossos povos, regiões e biomas, atribuindo-lhe níveis de (des)importância que muitas vezes são a exata expressão de injustiças sociais, determinismos e preconceitos étnicos-raciais, como é o caso da caatinga e de alguns grupos de pessoas que ali vivem.


As caatingas, como preferem denominar muitos autores, para além da imagem de solos rachados, constituem um bioma rico, de fisionomias múltiplas, que se regula naturalmente, mesmo nos locais de grande aridez.


Na cultura política e intelectual brasileira há uma hierarquização dos nossos biomas que muitas vezes são associados a características supostamente inatas de suas populações (pode parecer um absurdo para muitos de nós, mas permanece vivo em muitos discursos por aí). No caso da caatinga, por exemplo, a caracterização biofísica e ecológica de suas regiões semiáridas foi utilizada, pelo menos desde o século XIX, na construção de imagens paradoxais sobre as populações que ali vivem, que se sedimentam na ideia de que o sertanejo é sobretudo um forte (pois suporta as adversidades do ambiente) ou um indolente (pois não consegue transformá-las).

Esta estereotipagem é uma construção histórica e fundamenta-se em uma visão colonialista daqueles territórios, que os analisa a partir de um modelo único de desenvolvimento, sem respeito a suas peculiaridades socioambientais.

 

Referências Bibliográficas


AB’SÁBER, Aziz Nacib. Sertões e sertanejos: uma geografia humana sofrida. Dossiê Nordeste Seco. Estud. Av.,vol.13, no.36,São Paulo,Mai/Ago.1999.

BURITI, Catarina de Oliveira; AGUIAR, José Otávio. Secas, migrações e representações do semi-árido na literatura regional: por uma história ambiental dos sertões do Nordeste brasileiro. Textos e Debates (UFRR), v. 16, p. 7-31, 2008.

LEAL, Inara R.; TABARELLI, Marcelo; SILVA, José Maria Cardoso da (eds.). Ecologia e conservação da caatinga. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2003.

OLIVEIRA, Gabriel Pereira de. “Eu não dei o meu dinheiro para inglês nenhum”: o ideal de nação e a seca de 1825 no norte do Brasil. Revista de História Regional, 24(1): 160-178, 2019.


 

Como citar este texto:


CAPANEMA, Carolina M. Caatingas, sertões e estereótipos, Viçosa. 2020. Disponível em: <https://emtudovejonatureza.wixsite.com/inicio/post/caatingas-sertoes-e-estereotipos>. Acesso em: [Data de acesso].


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